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Breves tragédias do trabalhador urbano

Renato Maia lança livro de contos na tentativa de compreender os motivos que levam pessoas a seguirem em frente num mundo de desamparo

Redação
Por: Redação Fonte: Victória Gearini - LC Agência de Comunicação
31/01/2025 às 10h17
Breves tragédias do trabalhador urbano
Divulgação / Ases da Literatura

A tragédia enquanto gênero literário costuma estar associada a personagens nobres, heroicos e mitológicos que inevitavelmente vão ao encontro de um final infeliz. No livro Histórias que um pessimista contaria a seus netos se tivesse decidido ter filhos, Renato Maia se aproxima dessa que é uma das narrativas mais antigas do mundo para revelar como o trágico também está presente no cotidiano da classe trabalhadora.

Os 40 contos da obra evocam o sentimento subliminar dos típicos dramas gregos por meio de pessoas comuns – aquelas que têm fé no jogo do bicho; pegam ônibus cheios para trabalhar durante oito horas num emprego mal remunerado; estudam finanças para quitar uma dívida antiga enquanto economizam até o dinheiro do transporte; e enganam a si mesmas para não parecerem covardes diante de situações difíceis. É a partir desses protagonistas, frutos de um Brasil com profundas desigualdades, que o autor reflete sobre a condição humana.

O dono da pizzaria não sabia seu nome, mas disse que todo domingo, sempre perto do horário de fechamento da loja, aquele rapaz chegava, normalmente apressado e um tanto ofegante. Mandava preparar sua pizza habitual, pedia para tirar a cebola, pagava em dinheiro, deixava geralmente o troco no pote de gorjetas e saía com um olhar de contentamento. Tinha achado estranho sua ausência hoje. Pensou que estivesse viajando. Depois de um breve instante em silêncio, despediu-se de todos, mais uma vez fez o sinal da cruz diante do corpo, cumprimentou o motorista pelo nascimento do filho e foi pra casa satisfeito. Felizmente, segunda-feira a pizzaria não abre. (Histórias que um pessimista contaria a seus netos se tivesse decidido ter filhosp. 118)

Também filósofo, o escritor recorre a visões de mundo descritas por Schopenhauer, Albert Camus, Bauman e Blaise Pascal, além de buscar inspirações em autores como Clarice Lispector, Kafka, Dalton Trevisan, Shakespeare e Jean Racine. “Diversos pensadores se dedicaram à causa do desamparo do homem no mundo. O homem é miserável, pois nada o satisfaz. Por ser vão, preenche-se com qualquer coisa, para logo em seguida ver-se ávido por outras. A oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir faz de toda alegria provisória e com que todo prazer venha acompanhado de alguma dor”, explica.

Além de retratar os pequenos infortúnios do dia a dia e a realidade dos leitores que convivem principalmente com a agitação das metrópoles, a obra traz elementos de humor na busca por encontrar sentido através da arte. Entre temas como melancolia, pobreza, violência, desespero, luto, desigualdade de classes e solidão, o livro explicita uma perspectiva acerca da vida que une tristeza ao humor numa sátira sobre a existência na contemporaneidade.

FICHA TÉCNICA

Título: Histórias que um pessimista contaria a seus netos se tivesse decidido ter filhos
Autor: Renato Maia
Editora: Ases da Literatura
ISBN: 978-6554285872
Páginas: 202
Preço: R$ 74,90 
Onde comprar: Amazon

Sobre o autor: Formado em Audiovisual e Filosofia, Renato Maia trocou o mercado financeiro e o concurso público pela vida de artista. Atualmente é diretor, roteirista, fotógrafo e montador. Na literatura, participou de antologias de contos e crônicas, além de ter publicado “Allegro Ma Non Troppo”, que esteve presente na 93ª Feira do Livro de Lisboa e da 40ª Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Agora lança Histórias que um pessimista contaria a seus netos se tivesse decidido ter filhos, pesquisa o universo de micronarrativas, desenvolve um romance e escreve o roteiro de um longa-metragem.

Redes sociais do autor:

Instagram: @renato_maia10
Facebook: /renato.maia.5623

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